Isso não é uma nota de repúdio! É um aviso!

Isso não é uma nota de repúdio! É um aviso!

Seção de Trabalhadores da Educação

Em meados de 1929, René Magritte, produz uma obra que faz parte de uma série de outras obras chamadas de “A Traição das Imagens”. Magritte aponta para a complexa relação da realidade e da arte e suas reflexões e conexões, mais precisamente sobre a representação da realidade. Sua crítica é no sentido de que um quadro, uma obra de arte, não é a realidade e não pode ser interpretada como a coisa em si. Assim, seu quadro mais famoso, “Isso não é um cachimbo”, brinca com o sentido e o significado dessa realidade. É claro, um cachimbo é um cachimbo e um quadro de um cachimbo não é um cachimbo, pois nele não posso obter a sua função primeira que é fumar! Pois bem, então vamos ao ponto:

Isso não é um sindicato! Se assim continuarmos a alimentar essa estrutura, não nos restará nenhum direito e só teremos a servidão!

A questão, camaradas, é essa. O sindicato é a representação dos trabalhadores, das suas lutas, das suas bandeiras históricas. É o real e o concreto. O que temos hoje está longe, muito longe, de ser um sindicato. Sindicato que deveria expressar essa representação dos trabalhadores e trabalhadoras. Sindicato que deveria fazer a luta e apontar o caminho para organização da classe trabalhadora. Isso que temos é como um quadro de Magritte: é arte, é manifestação, é retrato, menos um sindicato. Não organiza, não faz o enfrentamento, não ouve as suas bases e não deixa elas se manifestarem. Tolhe qualquer forma e possibilidade de ser democrático e transparente.  É verticalizado e antidemocrático. Não é um sindicato! Pior. Se pensarmos sobre essa perspectiva, de que ele apenas representa de forma ficcional um sindicato, podemos concluir que representa muito mal. É na comparação de uma obra de arte, um quadro sofrível. Entrega suas bases e suas lutas no primeiro rugir das dificuldades. Joga para as bases a responsabilidade de se mobilizarem, de se defenderem e de se autogerir. Pior: joga para as bases as responsabilidades dos fracassos das lutas. Se isentam de qualquer responsabilidade e são incapazes de fazer autocrítica.

Por que então precisamos dele? Por que continuamos, ano após ano, reproduzindo as mesmas lamentações perante o mesmo quadro sofrível? Por que alimentamos com expectativas nossa percepção que esse sindicato irá se mobilizar, se movimentar para alterar esse enquadramento? Por que alimentamos de recursos uma estrutura que não organiza minimamente os trabalhadores?

Sim camaradas, o quadro está pintado. Estático e envernizado, não irá mudar! Será o mesmo com o passar dos anos. Só juntará poeira e pó, mofo e cupim. E mesmo que sofra manutenções esporádicas, continuará ali, com a mesma imagem da realidade representada. Um verniz novo, uma moldura nova, não muda a imagem. Só reforça a estrutura de verticalização, de burocratização, de não representação, de antidemocracia.

Mas por que podemos ter uma postura tão categórica ao afirmar isso?

A história, camaradas, é implacável para nos dar pistas às respostas. Vamos aos fatos:

Simbiose partido-sindicato.  A atual estrutura sindical, vinculada aos partidos políticos, é feita para representar as “forças/correntes” políticas desses partidos e as candidaturas para legislaturas nas diferentes esferas públicas. Este fato é relevante e importante. Aponta-se aqui que qualquer tentativa de independência das bases ao controle do sindicato, e de reorganização pela base, sempre será subjugado, abafado, sufocado, por essas “forças”. O que vale para essas “forças” políticas sempre será o “eleitrômetro”. Contrariar governos e aliados é sempre prejudicial aos planos dessas “forças”. Assim uma greve ou a luta na base, no chão de fábrica, só acontece se o interesse primeiro deles for o emergente. Vide as históricas entregas e desmobilizações de greves às vésperas das eleições. Não contem, portanto, com eles nas portas das escolas. Só estarão lá nas vésperas de uma eleição. As tais forças políticas só pensam em engordar seus “filiados” para avançar na estrutura burocrática sindical. Não há compromisso com a ruptura dessa burocracia, só há o reforço pela sua manutenção, pois essa se encaixa perfeitamente com as pretensões eleitorais futuras. Que as bases sejam alienadas e subjugadas.

A não ação. Feito pra não funcionar, a estrutura sindical é burocrática no seu extremo. Não atende a qualquer demanda que não seja estritamente ligada a algum interesse das “forças”. Não tem interesse em organizar os trabalhadores nas bases, nas escolas. Seu jurídico, que pega no atacado e nega o varejo, só visita as escolas quando solicitado (muitas vezes implorando-se). Verticaliza suas ações, priorizando a própria estrutura ao invés da base dos trabalhadores. Mantém uma estrutura física pesada, truncada e sem nenhuma relação efetiva com a realidade da sua base. É verticalizada, impedindo qualquer iniciativa de representação contrária às suas posições. Centra suas ações nas filiações para o arrecadamento de recursos financeiros, para sustentar suas fileiras e toda a rede de apoio de tais “forças” políticas. Vejam os recursos repassados mês a mês para central sindical, deixando as bases às margens de qualquer ação de solidariedade.

Por que mantemos nossa filiação em uma estrutura viciada e burocratizada?

Não precisamos. Essa é a resposta. Devemos e podemos romper. Devemos destruir essa estrutura e com ela todos aqueles que a sustentam. Não há saída. Não há rearranjos. E mais: várias das tais “forças” políticas evocam muitas vezes tais rearranjos, fazendo apelos para novas filiações, se escondendo em formações de supostas frentes da base, mas com orientações dessas tais “forças”. Estrutura feita para cooptar novos filiados às suas correntes políticas. Que isso seja feito sem misturar os interesses da base dos trabalhadores. É possível isso? Está aí a história para dizer o contrário. Essa estratégia só afasta os trabalhadores e desvirtua sua luta. A mudança é necessária para no primeiro plano estabelecer a manutenção dos direitos e no segundo plano avançar nas conquistas.

O que fazer? E mais importante, como fazer?

Desfiliar para fazer sangrar de morte essa atual estrutura. Os burocratas precisam ser abandonados às moscas. Nem diálogo há mais! Devemos dizer chega, basta a eles! Desfiliar e se reorganizar nas bases de fato. No chão da escola. Lugar onde esses burocratas há muito tempo não estão e nem vão. Se reorganizar em fóruns e conselhos. Estabelecer fundos de apoio mútuos, para financiar a luta e, principalmente, a solidariedade. Buscar estabelecer estruturas horizontais, que envolvam outros trabalhadores e toda a comunidade.

A realidade está aqui. Nossas pautas foram precarizadas por quem não vive essa realidade. Estão como em um quadro, enquadrados em outra direção que está em franca oposição com nossos anseios. Por escolhas próprias e conscientes ou por embriaguez e torpor de suas convicções partidárias.  A esses últimos fica o desejo de cura dessa ressaca e do convite para vir para luta de fato. Aos outros, desejamos que sejam julgados pela história. Por entregar várias e em inúmeros momentos nossas pautas e não organizar a luta. Sejam julgados pela ganância e pela mesquinharia do poder pelo poder.

A vocês, camaradas trabalhadores da educação, venha construir o sindicalismo revolucionário e ajudar a destruir essa representação sindical burocrática. Lembremos que o sindicato somos nós e por nós deve ser construído e gerido. Façamos então por nossas próprias mãos: é nós por nós!

ABAIXO A BUROCRACIA SINDICAL!

CONSTRUIR O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO!

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