Dia dos professores: dia de luta ou de Lula?

Dia dos professores: dia de luta ou de Lula?

Nos dias 31/08 e 01/09 foram realizadas as primeiras assembleias das regionais Florianópolis e São José sob a gestão das chapas eleitas em julho.

Em ambas, foram aprovadas propostas de atividades de mobilização por ocasião do dia 15 de outubro, dia dos professores.

Nós, que defendemos e votamos a favor dessas propostas, pensamos que nossa categoria tem muito pouco ou nada a celebrar nessa data e que, ao contrário, o dia 15 tem que ser encarado com um dia nacional de lutas dos professores. É dia de agradecer os parabéns recebidos sim, mas principalmente de aproveitar a atenção e sair às ruas para demonstrar nossas insatisfações para a sociedade e cobrar governantes pelo atendimento de nossas reivindicações.

Nas assembleias regionais, as propostas aprovadas pela categoria tinham exatamente esse sentido, de fazermos do dia 15 um dia de união e combate sindical. Deliberamos pela realização de assembleia unificada das duas regionais seguida de manifestação de rua focada em nossa pauta reivindicativa. Para maior visibilidade e impacto social, optamos pela sexta-feira (14/10), ao invés do sábado.

Às vésperas da data, a categoria foi informada de que as direções regionais haviam tomado decisões diferentes daquilo que aprovamos em assembleia.

A regional de São José optou por manter a realização da assembleia de base, mas em formato online. A regional de Florianópolis não convocou nova assembleia. Ambas abriram mão da organização da manifestação da categoria. No dia 13/10, a regional Floripa convocou a base para participar de uma “Caminhada dos/as professores/as com Décio e Lula” no dia 15/10, junto a outros sindicatos da educação.

Vemos essas decisões de forma bastante negativa e aqui, de forma respeitosa e fraterna, apresentamos nossa crítica.

A regional SJ cumpriu parcialmente com a decisão da assembleia anterior ao decidir manter a assembleia na data prevista. Mas assembleias virtuais não substituem o  encontro presencial dos trabalhadores, assim como ensino remoto não chega aos pés da sala de aula. Os dirigentes não justificaram a opção, mas possivelmente levaram em consideração o esvaziamento da assembleia anterior e decidiram não “desperdiçar” energia com a logística de uma assembleia presencial. Para nós, isso significa se adaptar ao esvaziamento ao invés de combatê-lo. Se os professores não querem “perder tempo” se deslocando pra uma atividade sindical é porque consideram que participar desses espaços não vale a pena. O trabalho da direção sindical deveria ser convencer os colegas trabalhadores do contrário. Deveria ser atuar incansavelmente para convencer o professorado de que é necessário participar, deveria ser providenciar transporte, alimentação, cuidado com crianças e tudo o que for necessário para garantir a presença e, principalmente, RESPEITAR AS DECISÕES TOMADAS POR AQUELES QUE COMPARECEM. Realmente, quando o trabalhador participa de uma assembleia, toma decisões e confia que elas serão levadas adiante e depois percebe que nada do que foi discutido é encaminhado, como não concluir que foi uma perda de tempo?

Ainda assim, é melhor uma assembleia virtual do que assembleia nenhuma.

A regional Floripa, por sua vez, descumpriu por completo a decisão da assembleia, que foi tomada por um conjunto considerável de professores que se fizeram presentes e depositaram nesses dirigentes a confiança de que suas decisões seriam respeitadas e encaminhadas. A direção também não justificou sua opção por não convocar assembleia e não construir a manifestação do dia 14. O chamado ao ato do dia 15 foi defendido, na propaganda virtual, por razões de “conjuntura”, sem maior explicação de qual seria a análise de conjuntura feita pelo grupo.

Não consideramos que o ato do dia 15 seja cumprir a decisão da categoria. Nós votamos por um espaço de discussão e deliberação da categoria seguido de manifestação própria, independente, focada em nossa pauta sindical. Votamos por uma ação protagonizada por nós trabalhadores. No ato do dia 15, os professores são chamados a um ato eleitoral, em que os protagonistas serão os candidatos.

Não vemos problema algum no fato de direção sindical expressar suas posições político-eleitorais. O problema é sobrepor sua vontade política à vontade da categoria.

Por que não organizar a assembleia do dia 14 e nela colocar em discussão a participação da categoria no ato lulista? Se essa fosse uma decisão coletiva da base, o sentido seria outro. O que estamos problematizando é que a direção, que disputou a eleição sindical sob o lema “O SINTE é da categoria”, aja exatamente como age a direção estadual a qual fazem oposição: desrespeitar decisões coletivas e subordinar a luta sindical à disputa eleitoral a favor dos candidatos petistas. Se os professores decidem uma coisa e os sindicalistas fazem outra, o SINTE é da categoria ou é da direção sindical?

Não somos contra o debate político no sindicato. Somos contra o uso político-eleitoral do sindicato por decisão da direção e não da categoria. O eleitoralismo que há décadas comanda a política sindical brasileira é um dos fatores que afasta os trabalhadores dos sindicatos. Não devemos ser um sindicato de trabalhadores lulistas da educação. Devemos ser um sindicato que representa a todos trabalhadores da educação, independentemente de sua opção eleitoral e partidária.

Não temos candidatos a defender, temos reivindicações para conquistar. E nunca conquistamos só com eleições e sem luta. As pautas trabalhistas nos unem, enquanto a política eleitoral nos divide. E a divisão nos enfraquece.

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