Manifesto de Fundação

Manifesto de Fundação

Manifesto de fundação do Sindicato Geral Autônomo de Santa Catarina

Instrumento de união e luta das trabalhadoras e trabalhadores

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No último período revoltas e insurgências populares explodiram em todo o mundo, da Europa à América Latina. O povo já não aguenta mais esperar pelas promessas de democracias fracassadas, que claramente não podem eliminar as injustiças de uma vez por todas. Sabemos que o capitalismo é fundado sobre a desigualdade, a exploração e a opressão. As classes dominantes enriquecem em cima do nosso trabalho e da apropriação dos bens comuns, então essa sociedade é injusta por natureza e precisa ser totalmente transformada.

Hoje em dia os países competem pra ver qual governo pode oferecer a legislação trabalhista mais flexível, onde as grandes empresas possam se estabelecer sem se preocupar com direitos, carteira assinada, aposentadoria. Baixar o custo da força de trabalho é a principal preocupação para aumentar os lucros, seja no Brasil, na China, nos Estados Unidos, na África do Sul ou em qualquer outro lugar do mundo. A precarização das condições de vida que a gente tem sofrido na pele todos os dias, é também a precarização que está sofrendo um chileno, uma francesa, um equatoriano. O desemprego vai às alturas, e as pessoas estão tendo que se submeter aos mesmos bicos como diarista, entregador, uber… trabalhando 14 horas por dia, 7 dias por semana e entregando uma porcentagem abusiva do dinheiro recebido pra gigantescas empresas de aplicativos, que quase não tem custos e não possuem qualquer obrigação conosco. A cesta básica, o gás, a conta de luz e de água só aumentam a cada dia, e nossos salários e direitos só diminuem. Os governos ainda tem a cara de pau de dizer que o desemprego está baixando, porque todos tem uma “ocupação”, são “empreendedores”, mesmo que nas condições mais humilhantes. Nas periferias a situação há muitos anos é a mesma: a milícia, o tráfico e a polícia competem para ver quem mata mais e quem alicia mais jovens pros seus bandos de extermínio, mantendo os mais pobres sob controle.

Os países também competem pra ver quem oferece a legislação ambiental mais flexível, onde as grandes empresas possam se apropriar de todos os recursos, contaminar os rios e o ar à vontade, destruir os solos, acabar com as florestas, privatizar os bens comuns, desde a água até as sementes pra lucrar em cima da vida. Há uma corrida por recursos naturais e um aumento gigantesco da concentração de terras, principalmente na América Latina, o que leva a expulsão, o assassinato e a perseguição à camponeses, quilombolas, indígenas e ribeirinhos, que quando conseguem ficar no campo se submetem à relações de trabalho que mais parecem uma escravidão. Sentimos na pele o resultado dessa exploração da natureza por parte das elites insaciáveis: As secas nunca foram tão fortes aqui em nossa região, colocando em risco o abastecimento de água das casas e da produção agrícola nos interiores. Enchentes avassaladoras deixaram mais uma vez centenas de pessoas desabrigadas no sudeste do país. No nordeste, empresas contratam seguranças armados para impedir o acesso a fontes de água escassas que antes eram usadas por toda a população.

Hoje, os 1% mais ricos concentram sozinhos metade da riqueza do mundo inteiro. No Brasil os 5% mais ricos tem a mesma riqueza que os outros 95%. Pra garantir que continue sendo assim, as elites apostam cada vez mais em regimes autoritários, militarizados e neofascistas, que impõem a lógica do lucro através da violência explícita. Bolsonaro é apenas um deles, resultado tanto dessas necessidades do sistema capitalista global, quanto de políticas fracassadas de uma esquerda institucionalizada e social democrata impotente, que fechou os olhos para a classe que supostamente deveria representar.

É diante de tudo isso que nós resolvemos dizer basta. Não mais em cima do nosso trabalho, do nosso suor, dos nossos corpos, de nossas terras. Junto a tantos revoltados pelo mundo, nos recusamos a seguir aceitando a sociedade capitalista como único caminho possível. Nos recusamos a seguir adoecidos, mental e fisicamente para sustentar os passatempos de um punhado de bilionários. Não acreditamos em líderes eleitos de qualquer tipo, que quando chegam ao poder só representam a si mesmos. Acreditamos na nossa força comum, na nossa união enquanto trabalhadoras e trabalhadores, do campo e da cidade, das fábricas, dos comércios, das salas de aulas e laboratórios, desempregados, donas de casa, camponeses e camponesas, estudantes, pois nós que sustentamos esse mundo com nossos corpos e mentes. Queremos construir outras relações e outra sociedade, baseada na coletividade e na solidariedade e não na competição entre os nossos. A social-democracia está falida, e como vimos, as elites já tem um projeto de poder para colocar em seu lugar. Nós, enquanto povo, estamos sendo duramente atacados em uma verdadeira guerra de classes. Temos que enfrentar os donos do poder de forma organizada e construir juntos um outro projeto de poder, popular, que rompa com a ordem e que tenha a revolução como horizonte.

Assim, é com muito entusiasmo que anunciamos a fundação do Sindicato Geral Autônomo de Santa Catarina, o SIGA–SC. Convidamos as trabalhadoras e os trabalhadores do campo e da cidade, dos serviços e do comércio, terceirizados, trabalhadoras e trabalhadores informais, movimentos sociais em geral, camponesas e camponeses, comunidades rurais, quilombolas, indígenas e estudantes para se organizar e construir o SIGA-SC, um instrumento de união e luta de todo o povo.

Hoje somos estudantes, professoras e professores, trabalhadoras e trabalhadores do município de Florianópolis. Estamos articulados junto à Federação das Organizações Sindicalistas Revolucionárias do Brasil (FOB), que há 10 anos vem reunindo organizações estudantis, sindicais, populares e de bairro em mais de 10 cidades brasileiras, com uma perspectiva autonônoma, coletivista e revolucionária. Acreditamos que os sindicatos, organizações estudantis e associações comunitárias devem ser ferramentas de luta do povo, para o povo, e não para servir como palanque eleitoral. Apenas por meio da auto-organização, da ação direta e da união é que podemos conseguir melhorar nossa vida e o local onde vivemos, trabalhamos e estudamos.

Nos organizamos sob os princípios da autonomia, ação direta, federalismo, mutualismo, internacionalismo e contrariedade a opressões de todos os tipos (gênero, raça-etnia, origem e renda). Estes princípios são essenciais para garantir que a articulação solidária de todos os explorados seja cada vez mais ampla, não só no Brasil mas no mundo todo. Também garantem que todos os membros tenham participação real nas decisões da organização. Se ninguém trabalha por nós, que ninguém decida por nós! Nossa luta, para além da melhoria imediata da vida, de melhores salários, educação e saúde, é pela transformação radical dessa sociedade, pela igualdade e liberdade de todo o povo trabalhador.

Do poder do povo vai nascer um mundo novo!

Venha construir o SINDICATO GERAL AUTÔNOMO de Santa Catarina, o SIGA – SC!

Florianópolis, 07 de dezembro de 2019


🏴🚩 Sindicato Geral Autônomo – SC
E-mail:
siga.sc@protonmail.com
Wpp:
(44) 98413-1493

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