Classismo e Obreirismo no Movimento Estudantil

Qual é a função do Movimento Estudantil na luta de classes? Em qual categoria social estão os estudantes? É possível um programa classista e revolucionário no meio estudantil, ou o movimento estudantil deve apenas apoiar o movimento de trabalhadores? Longe de dar uma resposta definitiva e absoluta, diversas tendências têm respondido a estas questões com base em diversas concepções teóricas sobre o lugar da categoria estudantil na luta de classes e, consequentemente, para cada uma delas o movimento de estudantes tem uma função e um papel delimitado de acordo com cada concepção.

Esboçaremos aqui duas vias de resposta à pergunta: “O movimento estudantil pode construir um programa classista e revolucionário?” Para tanto, trataremos da composição social do estudantado sob duas perspectivas. É importante ressaltar que não pretendemos entender a classe como expressão meramente econômica, é preciso considerar a ação política dos sujeitos que fazem a si mesmos enquanto classe ao resistir às ofensivas do capital.

Uma primeira conceituação da composição social do movimento estudantil é a de que ele é policlassista, isto é, que ele é composto por diversas classes sociais, incluindo trabalhadores dos diversos ramos, pequena-burguesia e burgueses. Deste modo, o movimento estudantil não se identifica com nenhuma classe em específico, havendo uma pluralidade de classes sociais em seu meio. O policlassismo se expressa no ME como obreirismo.

Uma outra concepção entende os estudantes como fração da classe trabalhadora, isto é, que apesar das distintas origens de classe que compõem o corpo estudantil, muitos já são estudantes-trabalhadores, outros transitarão da condição de classe herdada para mundo do trabalho, seja como força de trabalho ou gestores do processo produtivo, com pequena possibilidade de mobilidade social, e ainda há muitos estudantes que, com a apropriação privada da produção de conhecimento e sua aplicação na acumulação de capital, já se veem em situação de ter sua força de trabalho super-explorada, seja em estágios ou a partir de bolsas com contrapartida laboral. Assim, mesmo que existam diversas origens de classe no corpo estudantil, grande parte já faz parte do mundo do trabalho e já estão submetidos à exploração do capital. Esta concepção expressa-se como classismo.

O obreirismo caracteriza-se pela subordinação das ações do movimento estudantil ao movimento de trabalhadores/sindical, uma vez que o ME é policlassista, ele é entendido como incapaz de defender um programa de classe e apenas pode servir de braço dos trabalhadores, apoiando-o em suas lutas e aplicando sua política no meio dos estudantes. Neste caso, frequentemente o ME é utilizado como bucha de canhão do movimento sindical, atuando como tarefeiro dos sindicatos e de partidos. Desta forma, sem ser capaz de formular um programa independente, os estudantes ficam a reboque do movimento sindical e de suas políticas hegemonicamente reformistas.

O classismo, ao contrário, entende os estudantes-trabalhadores como fração da classe trabalhadora e, portanto, capaz de construir e defender uma linha classista e revolucionária dentro do Movimento Estudantil. Neste caso, o ME é considerado uma frente estratégica da classe trabalhadora para aplicação de uma política de classe dentro do próprio ME, não o subordinando, mas construindo conjuntamente a luta enquanto classe trabalhadora, com a especificidade de estar inserido no processo formativo.

O Movimento Estudantil classista deve, portanto, ver-se como parte da classe trabalhadora, mas por suas especificidades os estudantes devem ter autonomia em sua tática, unindo-se aos trabalhadores estrategicamente. Para que isso ocorra é necessário que se construa uma linha classista no ME. Além disso, essa unidade não deve se dar na absorção do Movimento Estudantil pelo Sindical, mas pela união de ambos os setores numa luta conjunta, construída pela base, para a mesma finalidade, respeitando a diversidade inerente à própria classe trabalhadora e divergências política. A solidariedade de classe não deve se restringir somente àqueles que tenham acordo com a linha hegemônica, ela deve ser irrestrita!

Assim, entendemos que os princípios do Movimento Estudantil classista são: a solidariedade de classe, a independência frente a governos, partidos e empresas, e o internacionalismo. Estes princípios devem garantir a autonomia do ME e a união com toda a classe trabalhadora de todos os países. A RECC defende um Movimento Estudantil que não se subordine às burocracias sindicais, mas que esteja lado a lado com a classe trabalhadora, construindo uma linha classista, combativa e internacionalista no ME.

AVANTE ESTUDANTES TRABALHADORES!

POR UM MOVIMENTO ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVO!

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